quinta-feira, 31 de maio de 2012

Ser ou não estar?

Nós somos seres mutáveis. No decorrer de nossa jornada frequentemente mudamos de opinião e revemos nossos conceitos sobre tudo. Verdades antes absolutas se mostram equívocos esfregando em nosso rosto a nossa volatilidade.
Percebo que as pessoas demonstram uma dificuldade enorme de admitir que estavam erradas, seja em uma conversa mundana de mesa de bar, em debates acalorados ou em decisões sobre a vida. Felizmente, aprendi a não ter problemas em admitir meus erros, a fazer o possível para remediá-los e a pedir desculpas por tudo o que eu possa ter causado. O problema é que eu, pelo menos, demoro para perceber que errei.
De erro, subentende-se que se saiba o que é certo, e o certo nunca é fixo em qualquer âmbito de raciocínio; daí aparecem os arrependimentos que mais frequentemente do que deveriam tornam tarde demais a remediação completa do dano.

Nos últimos anos, tenho trocado o verbo ser pelo estar em muitas das minhas frases. Sinceramente não sei se é pela minha idade ou maturidade, mas ser alguma coisa tem me parecido muito duro; estar alguma coisa é mais correto aos meus ouvidos: me lembra do quanto meus pensamentos podem mudar.
Um pensamento que me veio agora: é bem conveniente o verbo to be do Inglês significar as duas coisas ao mesmo tempo. Me passou pela cabeça que nossa linguagem lusitana é meio prepotente, nos impossibilitando de sintetizar estes dois verbos que tem praticamente o mesmo significado mas com julgamentos temporais diferentes. Ou talvez a língua inglesa seja conveniente demais com a humanidade, falha por si só. Vai saber.

Assisto triste a formação de paradigmas maniqueístas, baseados nos ridículos conceitos binários do bem e do mal, do certo e do errado, de Belerofonte matando a Quimera. Esses paradigmas formam uma blindagem ao raciocínio lógico que está eternamente em desenvolvimento, e que é belo justamente pela própria mutabilidade.

Os cientistas, sábios e estudiosos como só eles, nomeiam suas verdades como teorias, e isso os lembra que nada é imutável. Recentemente a Teoria da Relatividade de Einstein foi confrontada com o Grande Colisor de Hádrons e uma nova era da física está por vir, corroborando tudo o que o alemão provou. A beleza é que a corroboração da teoria não invalida seu mérito: vai ser eternamente lembrada como um degrau importante na compreensão das leis do tempo e do espaço, possibilitando um avanço enorme na tecnologia. Ironicamente, o resumo da mais famosa teoria da física é que "tudo é relativo". Einstein ficaria orgulhoso de estar errado.

Analisando leigamente a dificuldade humana de assumir seus erros, me vem à cabeça o grande problema da nossa espécie na minha visão: a auto-estima. Esta maldita normalmente tem comportamentos dúbios: quando alta demais nos torna prepotentes; quando baixa demais nos torna inseguros e desejosos de auto-afirmação.

Meu tio me disse quando eu estava no auge da adolescência: "é preciso estar muito certo pra admitir que está errado". Eu, na época mais arrogante da minha vida não entendi o que ele quis dizer, e quatorze anos depois entendo que ele se referia à coragem e honras necessárias para se abaixar a cabeça. Ironicamente, este sábio faleceu prematuramente negando a todos os seus problemas.

Empresto aqui o raciocínio do meu tio, e digo: o certo é aceitar que um dia você estará errado, e aceitar a mudança como algo natural. 

Olha eu afirmando alguma coisa com verbo ser de novo. Merda.