sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Leap of Faith

Não creio que há uma expressão brasileira que traduza bem o Leap of Faith inglês. É daquelas expressões estrogonóficas que tem um significado simultaneamente simples e complexo: pular sem pensar, confiando no destino. É arriscar, jogar a segurança fora. Em Português, o mais próximo que me vem à cabeça é o "entrar de cabeça", que nos remete a pular num rio sem se preocupar com a profundidade da água. O sentimento é o mesmo, mas no rio pelo menos a gente sabe a altura do barranco e quando que vai chegar a barrigada na água. No Leap of Faith só há o vazio e o arrepio da queda, não se sabe nem se um dia você irá tocar o chão novamente. Essa concepção tem me dito bastante nas minhas últimas inúteis divagações filosóficas. Leap of Faith, camarada Zaitsev.

É preciso coragem pra dar esse salto, e antes de dar o salto é necessário se despir de todas as seguranças que te prendam. Creio que essa seja o foda: o Leap é fácil, difícil é o Faith.

A fé é um negócio bem filho-da-puta: é acreditar em alguma coisa, confiar profundamente em algo inconcebível.
Quero passar longe da concepção de fé religiosa, creio que ela seja muito infantil. É fácil demais confiar num ser onisciente, onipotente e benevolente. Em teoria, você não tá correndo risco algum: o cara entende de tudo, sabe fazer tudo e ainda por cima é bonzinho. Isso me parece mais uma saída covarde para os problemas da vida. "Confiar no Boi-Tatá" pra mim é tirar o corpo fora, é não admitir pra si e pro resto do mundo que aquilo está fora do seu alcance. É não pedir desculpas por não poder ajudar. É dizer "eu conheço um cara que pode resolver", mas não passar o telefone do peão. Boi-Tatá, se você existe, um dia a gente conversa sobre isso, mas pra mim você simboliza a covardia humana.
A palavra fé pela própria definição não admite raciocínio. Portanto, a fé pura é confiar no caos, que pela própria definição não te garante porra nenhuma. E cara, pra confiar no caos você tem que ter culhões. Leap of Faith, camarada Zaitsev.

Nos últimos tempos eu tenho visto bastante gente desistindo na hora de dar esse pulo.
Muita gente que prefere jogar um "talvez" ao vento só porque ele é "talvez" - e não "provavelmente" - e eu fico triste com isso. O medo de sair da merda, só porque você já se acostumou com o cheiro; o receio de desatolar da lama, pois a estrada é desconhecida; o raciocínio do "é melhor um pássaro na mão do que dois voando". Não, não é melhor não: pássaros foram feitos pra voar.
Obviamente eu dei sorte no meu último pulo, mas já me dei mal também. Em alguns desses pulos, eu não cheguei no chão até hoje, e isso faz parte. A vida é assim, não dá pra controlar tudo, camarada Zaitsev.

Tenho fé que as pessoas vão aprender a ter fé.